sábado, 6 de março de 2010

Encontros e desencontros

Ela viajava sozinha, pela primeira vez. Sonhava com isso há muito tempo e finalmente chegou o dia. Já estava há uma semana em Londres, visitando o irmão - os dias mais emocionantes da sua vida. Mochila nas costas, pegou o último trem da noite, rumo ao aeroporto.

Destino: Paris.

Tudo estava perfeito. Até mesmo a solidão era deliciosa, pois seu apelido era liberdade.

Dinheiro, não tinha muito. O plano era passar a noite no aeroporto, que ficava afastado da cidade, já que o vôo saía cedo demais, antes do primeiro trem da manhã, e o taxi... bom, mochileiro não anda de taxi em Londres.

No caminho, uma informação... quem respondeu foi o Gabriel, mochileiro australiano, com passagem para o Marrocos e que também se preparava para virar a noite - aliás, logo ficou muito claro que essa "prática" não era novidade, pois a praça de alimentação do aeroporto mais parecia um dormitório improvisado.

Não tardou muito para que chegasse o amigo de Gabriel: um australiano magrinho e tímido, mas muito, muito simpático. Os três conversaram por toda a madrugada, sobre assuntos totalmente irrelevantes. Uma conversa leve, desinteressada, entre pessoas que estavam prestes a experienciar uma grande aventura e que provavelmente nunca mais se encontrariam.

O amigo tímido disse que visitaria o Rio de Janeiro no ano seguinte e perguntou onde ela morava. Ela arrancou uma página do seu caderninho de notas e desenhou o Brasil, apontando para o último Estado ao sul: "aqui". Muito tempo depois, ele confessou ainda ter guardado aquele papelzinho.

Muitos cafés, terrivelmente fortes, preparados no silêncio da madrugada... "meus dois vícios: café e chocolate", ela explicou...

A manhã chegou, trocaram emails, como todos os mochileiros fazem, mesmo sabendo que a grande maioria dos contatos se perderão. Na despedida, um abraço no australiano tímido, que ficou mais tímido ainda...

Já no avião, olhos pesados, ela sorriu ao pensar que fez novos amigos e se despediu deles para sempre, no intervalo de algumas poucas horas... e de como a vida era doce... e, não mais conseguindo evitar, entregou-se ao sono...

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